Wednesday, June 21, 2006

Muralha da China (para Paola)

Hoje partistes.
Cansastes da luta. Perdestes o medo ?
No teu último suspiro, alívio. Vivestes à pleno.

Agora, sereno.
Teu corpo descansa. Tua alma levita.
No teu último segundo, o mundo. Te agradece a visita.

E pra quem fica, o vazio. Irreparável.
Um dilúvio de lágrimas.
Pra quem fica, o frio. Da tua ausência.
Um concerto de pausas.

Hoje acordei.
Cansada do luto. E sei que ainda é cedo.
No primeiro bocejo, o soluço. Viver não será mais o mesmo.

De novo, aos prantos.
Meu corpo desaba. Minha alma grita.
E a cada segundo, me parece que o mundo já não faz mais sentido.

E pra quem fica , o abismo. Instransponível.
Um castelo de dúvidas.
Pra quem fica, um caminho. A ser erguido
Muralha da China
Pra quem fica, a certeza :
De que a dor não termina. Mas diminui com o tempo.






Grecco Buratto

31 de Janeiro de 2005

Ultima Chamada

Deixe o vento te levar
Deixe que o tempo vai curar
Deixe o momento atravessar a rua

Deixe o eixo balançar
Dê uma de queixo pra sacar
Gingue no jogo. Jogue na ginga da cintura

Deixe o azeite cozinhar
Deixe a lágrima limpar
Deixe o instante percorrer o mundo

Deixe que eu deixo cê chutar
E enrolo um pra tu fumar
Drible de corpo . Corpo vigente de vagabundo


É a última chamada pra quem parte nesse vôo
com destino ao fim do mundo
É a última cruzada pra quem busca um consolo
pra viver nesse absurdo
É a última chamada pra quem parte nesse vôo
sem escalas rumo à sorte
É a última cruzada pra quem ainda não acredita
que se vive só pra morte


Deixe tudo como está
Diga adeus ao que restou
Deixe o mar se transformar em espuma

Deixe o vício acostumar
Não deixe de telefonar
Mande notícias de todas tuas desventuras


É a última ...



Grecco Buratto

24 de Novembro de 2004

Thursday, June 15, 2006

A Queima Roupa

Se é pra ser assim
Se esse é mesmo o fim
Então que seja violento
pra que não restem dúvidas de que tudo acabou.

Se esse é o final da estória
O tiro de misericórdia
Que seja rápido e certeiro
e não deixe vestígios dessa dor que aqui ficou

Mas amor,
Amor não morre à queima-roupa
Amor não morre, agoniza. Pouco a pouco. A cada esquina.
Amor
Amor não morre à queima-roupa
Amor não morre, se desbota. Prisioneiro da rotina

Se é pra acabar de fato
Se esse é mesmo o último ato
Então que seja incendiário
pra que não restem mais que as cinzas de tudo que se deixou

Se esse é o final da linha
O início da overdose
Que seja feroz e implacável
e não deixe lembranças de quem hoje eu ainda sou


Mas amor,
Amor não morre à queima-roupa
Amor não morre, agoniza. Prisioneiro da rotina
Amor
Amor não morre à queima-roupa
Amor é pego de surpresa. Morre de bala perdida


Amor,
Amor não morre à queima-roupa
Amor não morre, agoniza. Pouco a pouco. Dia a dia.
Amor
Amor não morre à queima-roupa
Amor não morre em um instante. Morre de hemorragia

Morre no canto do olho.Amor morre nas entre-linhas


Grecco Buratto
1º de Dezembro de 2004
Foram-se os dias,
as noites,
semanas, os meses e os anos

Foi-se a família,
os amigos,
amores e amantes.

Foi-se a alegria,
a esperança.
a fé e a criança

Foi-se quem ia
e ficaram as flores.

Foram-se os sonhos,
revoltas,
os gritos e as brigas

Foi-se a inocência
dos ideais
de infância

Foi-se a coragem
a certeza,
o riso e a beleza

Foram-se aos poucos
e ficou a distância. (E ficaram as distâncias)

Foram-se os ídolos,
rebeldes,
poetas,cantores

Foram-se os símbolos,
as letras
fatores

Foram-se os segredos
Mistérios,
Foi tudo um engano

Foram-se as cores.
Ficamos
em preto-e-branco.


Grecco Buratto
30 de Novembro de 2004

Quarta Feira

Ouvi dizer, por essas ruas já não andas mais
Aos nossos bares de costume, tu já não vais
Do nosso grande amor
só restou mesmo essa desilusão.

E aprendi, que dessa vida só se leva a dor
de samba-enredo e alegria só vive o fiel (cantor)
É Quarta-Feira todo dia
na passarela do meu Carnaval

Me diz agora, o que é que eu faço pra te esquecer
Por onde começo a me reencontrar
Se a cada passo eu volto a cair
Se são nos teus braços que eu quero domir
Me diz agora, já não voltas mais.

Andei, de bar em bar a te buscar em qualquer uma
Me encontrei apenas com outra paisagem nua
A decorar minha cama
com sua beleza e sua solidão

E entendi, da despedida só se leva o adeus
de esperança e poesia vive o sonhador
Foi Quarta-Feira, eu bem me lembro
A apoteose deste nosso amor

Me diz agora, o que é que eu faço pra te esquecer
Por onde começo a me reencontrar
Se a cada passo eu volto a cair
Se são nos teus braços que eu quero domir
Me diz agora, “Já não volto mais.”


Amei, a quem quer que fosse a abrir-me os braços
E desabei exausto logo após o gozo
E chorei em luto a minha alma morta
E procurei sem jeito pelos meus sapatos
E me vesti com pressa todo envergonhado
E a bejei na testa só por gentileza
E caminhei aflito em direção a porta
E lhe fitei calado a procurar respostas


Grecco Buratto
26 de Outubro de 2004